Domingo, 25 de Novembro, 20h 50m, Pavilhão dos Desportos em Madrid. Encontro-me ao centro do mesmo, a alguns metros do palco onde pouco depois Bruce Springsteen e a E-Street Band irão começar mais um concerto (o primeiro em terras europeias da digressão do novo albúm Magic). Ao meu redor, cerca de 16 mil pessoas aguardam impacientemente que as luzes do pavilhão se desliguem. Já não sinto as pernas, doem-me os rins e o pescoço, sinto um ratinho na minha barriga e fixo com o olhar um qualquer ponto no tecto e penso para mim mesmo: “como diabos aqui vim parar?”.
A minha memória recuou até ao fim da tarde do Sábado anterior onde me encontrei com os meus amigos da Bruce Pt (Nuno Miguel, Nuno Roldão, Friaças, Alfredo, Natércia, Lurdes e Nuno Lourenço) no Aeroporto de Lisboa. Uma viagem de avião muito rápida (40 min) e hop! Já estávamos a caminho do nosso hotel bem no centro de Madrid (há metro do aeroporto para o centro da cidade). Uma passagem rápida pelo McDonalds lá do burgo e depois uma caminhada rua abaixo até ao Hotel Palace, onde Bruce e toda a comitiva costumam ficar sempre que visitam a capital espanhola. Desta vez tínhamos à nossa espera os nossos amigos Ana Paiva e Carlos, que ficaram aqui alojados e com a expectativa de se cruzarem com o tio mais facilmente. Disseram-nos que provavelmente eles chegariam nessa mesma noite ao Hotel, por volta das 2 da matina. Houve tempo ainda para ir beber uns copos a um bar das redondezas e voltar para o Hotel Palace, onde tivemos em amena cavaqueira no interior do mesmo, bem instalados nos sofás do saguão principal e com os olhos atentos para a entrada\saída do hotel. Por volta das 3 da manhã, e com o cansaço a instalar-se, resolvemos despedirmo-nos da Ana e do Carlos e rumámos para o nosso hotel. O dia seguinte seria longo e intenso.
De referir que nestes dias está um frio dos diabos em Madrid, o que torna qualquer saída para a rua e passeio um verdadeiro martírio. Mesmo com agasalhos é quase impossível ficar quieto mais de 2 minutos.
No Domingo acordámos todos bem dispostos e com algumas olheiras, pusemo-nos ao caminho para um pequeno almoço composto por croissants, cacau quente, cafés e afins. Aqui em Espanha, os pratos são todos muito simples mas o preço é sempre puxadote. Pelo mesmo preço comia-mos o dobro e melhor aqui emLisboa. Logo a seguir saímos mais uma vez em direcção ao Hotel Palace: a Ana tinha-nos enviado uma mensagem a dizer que o Bruce era esperado no Hotel por volta das 10 e 30 da manhã. Mal lá chegámos pudémos ver o aglomerado de fãs que, tal como nós, se encontravam à frente do Hotel para verem o Bruce e ,quem sabe, conseguirem um autógrafo ou até mesmo uma fotografia lado a lado. Como curiosidade, esta zona deve ser uma das que eu já passei mais horas à espera do que quer que seja: lembro-me em 2003 da noite e todo o dia seguinte ter esperado por um vislumbre do Bruce. E na noite depois do concerto conseguir finalmente (por pura sorte) estar cara a cara com ele, receber o tão desejado autógrafo e trocar algumas palavras. A espera deste ano deixou-me em nervos: o frio aliado a um vento fininho que vinha de norte quase que dava cabo da nossa resistência. Ao fim de algum tempo, finalmente, pudemos ver as Vans a chegarem ao hotel e com todos os elementos a saírem um a um e a dirigirem se para o hotel. Houve a confusão normal destes momentos com toda a gente a querer chegar-se a Bruce. Viam-se expressões de cansaço em todos eles. Bruce apenas disse algo como “é bom estar aqui de novo em Madrid e vêmo-nos mais logo” e acenou para todos que o esperaram. Ainda recebeu como prenda uma caixinha de madeira de um fã. Os outros elementos seguiram-lhe o caminho. Notou-se a ausência do Danny Federici, por razões que já todos sabemos e da Patti, que segundo palavras de Bruce no concerto, não veio para ficar a tomar conta dos filhos em casa. Escusado será dizer que a Ana, a Natércia e a Lurdes choraram baba e ranho ao saber da notícia! ;-)
Para substituir Danny, veio o teclista careca da Seeger Sessions Band, cujo nome não me lembro.
Depois desta passagem pelo Hotel Palace, foi tempo de nos pormos à estrada a caminho do pavilhão onde almoçámos todos... bom, a Natércia ia ficando sem comer nada com os espanhois a enganerem-se no número de pratos, situação logo resolvida. Por volta das 14h já havia bastante movimentação em todas as entradas para o pavilhão com a confusão habitual dos números e ordens de chegada. Eu sinceramente nao percebo isto dos números. Quem chega primeiro, chega e prontos.... confusão há sempre para entrar... quem saber dos números ou das fitinhas. Há sempre confusão. A espera foi penosa: o frio e o vento não davam tréguas, comida também não havia. Era o olhar 20 vezes por minuto para o relógio e falar com o próximo para que o tempo passasse mais depressa. Pouco depois das 19h lá resolveram abrir as entradas e foi o “salve-se quem puder”.... todos a empurrarem e atropelos constantes. Nunca tinha visto nada assim: números marcados? Yeah, right! Eu nem tirei o meu bilhete do bolso e entrei sem ninguém para me impedir... depois foi a correria à procura do corredor que dava para a zona da plateia... pelo caminho “atropelei” um espanhol de muletas que seguia a minha frente (eu há pouco disse salve-se quem puder...), correria até à grade seguindo os passos do Nuno Miguel, que ia ligeiramente à minha frente. Ficámos com a Ana Paiva e o Carlos, mesmo ao centro, de frente para o palco. Depois foram mais 2horas e pouco de pé, sem nos mexermos, à espera, à espera... tempo ainda de ver o Filipe e a Leticia a ocuparem os seus lugares na zopa Vip e serem recebidos quer com aplausos quer com apupos. Afinal a realeza também gosta de ver espectáculos para o povo... :-) Pouco depois, fixei um ponto do tecto, respirei fundo e pensei “como diabos aqui vim parar?”.
